Vôlei: prestes a disputar a última competição pela equipe multicampeã do Brasil, o meio-de-rede Gustavo Endres quer mais um momento inesquecível na carreira: o segundo ouro olímpico
O Nacional - Primeiro o Gustavo anunciou a aposentadoria da seleção após as Olimpíadas. Agora foi o Anderson. Bernardinho deve estar bravo com vocês...
Gustavo Endres - (risos) Ele não está muito contente não, mas respeita, porque é a decisão de cada um. É muito pessoal, então não tem como interferir, mas é claro, ele está perdendo alguns jogadores do grupo com o qual ele, praticamente, começou em 2001, então com certeza vai sentir falta.
ON - Você é o melhor bloqueador do mundo. Prefere se despedir no auge?
GE - Prefiro. Quero que lembrem de mim agora. É óbvio que é muito bom estar na seleção, é muito prazeroso jogar com essa equipe, é maravilhoso o calor da torcida, nesses jogos internacionais, mas prefiro que fique essa imagem de mim, como foi com o Giovane, com o Maurício, com o Nalbert, quero que seja assim.
ON - O resultado dos Jogos pode interferir na aposentadoria? Não vai ficar a sensação que seria possível permanecer jogando em alto nível por mais dois anos?
GE - Não muda em nada, com derrota ou vitória, é decisão tomada. Até pensei em permanecer por mais dois anos, alguns jogadores conversaram comigo, caso do Giba que vai continuar, mas falei que não acho justo tirar o jogador da mesma posição que eu, que vai começar um ciclo olímpico, e eu sair na metade colocando ele na fogueira. Então prefiro que ele comece desde o início, que já faça parte do processo. Se me perguntar se vai fazer falta? Isso é óbvio, para todo mundo vai fazer falta. Mas teria que tomar essa decisão em algum momento da vida.
ON - Porque o vôlei brasileiro se tornou tão vitorioso. Qual o segredo?
GE - (risos) Não tem segredo. Tem muito treinamento, uma comissão técnica que é a melhor do mundo. Até não temos todos os melhores jogadores individualmente, em termos físicos, de altura, mas temos os melhores jogadores que sabem jogar juntos, a melhor equipe, cada um sabe o que outro vai fazer. Durante esses oito anos foi isso que nos deu sempre essa vantagem sobre os adversários.
ON - Qual o papel do técnico Bernardinho nesse contexto?
GE - O papel dele foi mudar nossa mentalidade. Com maior responsabilidade e dedicação. Saber jogar sob pressão. Ele soube mudar o discurso durante as conquistas. Em 2001 não éramos nada, então estávamos correndo atrás de alguma coisa. A partir de 2004 nós fomos campeões olímpicos e mundiais. Então a nossa responsabilidade era manter a mentalidade vencedora. Ele sabe lidar com isso.
ON - Quem pode parar o Brasil nestes Jogos Olímpicos?
GE - Acho que essa Olimpíada vai ser mais difícil que a de Atenas. Muitas equipes melhoraram, caso da Rússia que cresceu muito nesses quatro anos, a Polônia, os Estados Unidos, que até 2004 não era esse time que foi o que mais ganhou da gente nos últimos quatro anos. A Bulgária evoluiu muito. Dois búlgaros da seleção foram campeões italianos, então ganharam bagagem internacional.
ON - Qual a diferença das Olimpíadas para as demais competições?
GE - É o sonho de todo atleta, onde se reúnem os melhores do mundo, que fica todo focado nesse evento. Você conquistar uma medalha olímpica é não ser apenas reconhecido no seu país, mas no mundo todo, porque existe um peso muito grande. Uma medalha muda a vida de qualquer pessoa. É para isso que os atletas treinam. Começa o ciclo no final de uma Olimpíada para chegar na melhor forma na outra. Conosco também foi assim. Desde 1997, quando comecei na seleção.
ON - O seu momento inesquecível foi Atenas 2004. Pode mudar depois de Pequim?
GE - (risos) Quero dois momentos inesquecíveis. O primeiro e o último.
ON - E a preparação para Pequim. A Liga Mundial está sendo um bom aquecimento?
GE - Está ótimo, mas podia ser melhor. Tivemos alguns problemas como a contusão do Rodrigão, do Giba, mas eles já estão voltando a forma ideal. É difícil em ano olímpico você pensar na Liga Mundial. É óbvio que a preparação está toda na Olimpíada, mas esse grupo não consegue deixar de lado uma competição. Ainda mais com as finais no Brasil, porque na última vez perdemos para a Rússia, em 2002.
ON - Com o irmão mais novo no grupo aumentam as responsabilidades?
GE - (risos) Ele está bastante ansioso, bastante nervoso, nunca participou de uma Olimpíada, então fica me perguntando como é lá, como funcionam as coisas, como é na Vila Olímpica, quer saber tudo. Eu digo para ele ter calma porque vai passar por isso da melhor forma possível e vai ver que realmente é inesquecível. Da minha primeira olimpíada não esqueço nada e para ele vai ser a mesma coisa.
# 13 - Gustavo Endres
Posição: meio-de-rede
Altura: 2,03m Peso: 98 kg
Data de nascimento: 23/08/75
Local: Passo Fundo (RS)
Ídolo: Paulão
Conquistou seis vezes o Sul-Americano (1997, 99, 2001, 2003, 2005 e 2007), duas a Copa dos Campeões (1997 e 2005) e três a Copa América (1998, 99 e 2001). Na Liga Mundial, foram seis ouros (2001, 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007), uma prata (2002) e dois bronzes (1999 e 2000). Foi campeão olímpico em Atenas 2004. Pela seleção juvenil, foi campeão sul-americano (1994). Jogou na última temporada pelo Sisley Treviso (ITA). Bicampeão mundial (2002 e 2006). Em 2007, além do título da Liga Mundial e do Sul-Americano, foi campeão do Pan e Copa do Mundo.
(Fotos: Silvio Ávila/FIVB)
quinta-feira, 31 de julho de 2008
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