Tênis: Fabio Badra saiu da fronteira gaúcha para defender a nação do pai, a Jordânia, na Copa Davis e nos Jogos Pan-Árabes do Oriente. O tenista é prova de que o esporte não tem fronteiras
Natural de Santana do Livramento, Fabio Badra vem de uma região em que a presença da tradição gaúcha é bastante arraigada. Na Fronteira aprende-se que "o meu Rio Grande, é o meu lar" e que "campeando as próprias origens, qualquer guri vai achar", conforme cantam Os Fagundes. E foi justamente por isso que o tenista acabou buscando as raízes do pai, o imigrante Antônio Badra, da Jordânia, país do Oriente Médio que defende na competição de seleções Copa Davis há cinco anos.
Uma origem. Várias bandeiras
Fabio destacou-se na Copa Gerdau, principal torneio de tênis juvenil do país, quando chegou à final de duplas mistas, ao lado da compatriota Gabriela Maia. A derrota para o sueco Joachim Johansson, que já foi 9º do ranking mundial, e para argentina Gisela Dulko, não abalou. Durante a competição, o tenista recebeu um e-mail do tio que mora na Jordânia falando sobre uma matéria de um jornal local que mostrava a preparação do país para a Copa Davis. O tio, por conta própria, foi até a federação e contou a história do sobrinho que jogava no Brasil. Alguns dias depois, Fabio e o primo Alan, também tenista, desembarcaram em Amã para um período de testes e avaliações. "Jogamos um torneio classificatório que definiria a equipe. Acabei vencendo. Na época nosso técnico era da Geórgia. Além de nós, brasileiros, um inglês, também filho de jordanianos, foi conosco para Davis. Depois, apareceu um estadunidense, na mesma situação, que está até hoje."
Hoje já são cinco copas Davis pela Jordânia. Agora sem torneio classificatório. "Fiz bons jogos, ganhei a maioria dos meus jogos, então adquiri credibilidade lá. As pessoas me reconhecem na rua", orgulha-se Fabio, 26 anos. Entre jogos de simples e de duplas foram 17 vitórias e 14 derrotas. "É um retrospecto bom, mas como é por equipes, você acaba não dependendo só de você." O tenista, que vive no Brasil, treina o ano todo e meses antes da competição realiza preparação especial.
Das disputas em Abu Dhabi (primeiro ano), Bangladesh, Jordânia, Myanmar e Brunei, as que mais marcaram foram as em casa e as do ano passado. "Na Jordânia e no Brunei perdemos a final para a Arábia Saudita no último jogo. Eles são os mais fortes do grupo, junto com Cingapura, além de ter um excelente jogador", explica. Os jordanianos estão no grupo 4 da zona Ásia-Oceania. São 11 países divididos em dois grupos. Os primeiros de cada classificam-se para o grupo seguinte.
Mas o tenista gaúcho não desanima. "Espero jogar de novo, manter esse vínculo e quem sabe classificar a Jordânia. O país já esteve no grupo 2, mas é complicado. Como o tênis não é o esporte mais praticado, o governo não designa tanto dinheiro como para o futebol. A renovação fica difícil. Muitas vezes você fica dependendo dos mesmos jogadores por um tempo. O ciclo é um pouco mais lento. Mas na última vez que estive lá vi muitos garotos jogando bem com um perspectiva boa de futuro. O tênis ainda precisa ganhar um pouco mais de espaço e isso só vai acontecer quando houver resultados. A Jordânia porém está no caminho certo. Com algo a mais, a gente pode conseguir."
Em 2007 Fabio Badra experimentou outra sensação como atleta. Ele representou o país nos Jogos Pan-Árabes do Oriente (Pan Arab Games) no Cairo. "Demos a volta olímpica no estádio com a delegação da Jordânia, todos os chefes de Estado, uma festa bonita, cerca de 55 mil pessoas. Enfrentamos Argélia, Marrocos, Egito, Síria, Líbano, países fortes, uma competição legal pela integração entre os atletas, até porque no Oriente a cultura é muito forte," conta.
A rainha Rania
Uma das grandes experiências na nação de origem paterna, conforme o próprio tenista, ele teve quando pode conhecer a rainha Rania. Esposa do rei Abdullah, a herdeira da coroa esteve no Brasil no ano passado e destaca-se pela formação (estudou em Genebra) e beleza. "Tive a oportunidade de conhecer a rainha Rania no primeiro ano. Lá as pessoas vivem para o rei e sonham um dia em poder ver, tocar, ter algum contato com a família real. De repente eu estava lá, conversando com ela."
Completamente adaptado, o gaúcho destaca a alegria do povo jordaniano e o suporte da família como fatores que o fizeram continuar. "Quando jogamos em casa, teve muita torcida, então foi bastante motivador. Esse reconhecimento é bom pelo significado que tem para mim, representar a nação em que meu pai nasceu. É claro que eu só pude aproveitar essa oportunidade pelo suporte da família. Aqui nós perdemos muitos atletas pela pressão dos pais e dos amigos", ressalta.
Amadurecido, o tenista estabelece objetivos e pretende trazer a experiência que adquiriu para os mais jovens. "Quero manter o vínculo com a Jordânia o máximo possível e aqui no Brasil investir no tênis da minha região, acho que posso contribuir um pouco com essa vivência que tive", conta.
(Fotos: Arquivo Pessoal)
Reportagem publicada na edição de O Nacional dos dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro de 2009
segunda-feira, 13 de abril de 2009
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