quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Gaúcho lá de Passo Fundo

Futsal: pivô Maurício Cebola conta sobre a quinta temporada no El Pozo Múrcia. Com contrato renovado por mais quatro anos, ele já pensa em defender a seleção... espanhola


Em entrevista de perfil para o jornal "La Verdad" de Múrcia, o tranqüilo Maurício disse que gostava das músicas de Teixeirinha. "Me trazem lembranças de casa e da família." Não é por acaso que alguns colegas de time o chamam pelo nome do cantor famoso. "Uma vez fomos cantar em um 'videokê' e a única música brasileira no arquivo era do Teixeirinha. Aí tive que cantar para o pessoal," confessa. O Cebola acabou ficando para os amigos de Passo Fundo. "Lá sou o Maurício."

De bem com a torcida, com a imprensa e com o time, Maurício falou para o mesmo jornal anterior que pretendia marcar 30 gols nesta temporada. E foram mais: 37 no total, sendo 30 na Liga Espanhola. Porém, ele trocaria a boa atuação durante o campeonato pelo título, que acabou ficando com o maior rival: o Boomerang Interviú, da capital Madri. Dois jogos, duas derrotas e o vice. Confira a entrevista com o único passo-fundense no forte futsal espanhol, atual bicampeão mundial.


O Nacional - Como foi esta última temporada no El Pozo?

Maurício - Fomos derrotados nas duas partidas que não podíamos perder. Foram 36 jogos, ganhamos 28, empatamos 6 e perdemos as duas finais, na melhor de três. Fomos derrotados em Múrcia 3 x 1 e em Madri perdemos por 8 x 5. Havíamos empatado com o Interviú na primeira fase.

O time deles é nosso maior rival: tem os brasileiros Schumacher, Marquinhos, Gabriel e Neto, quatro titulares da seleção, fora o Betão e o Bacaro, naturalizado italiano, ex-El Pozo. No nosso temos, além de mim, o Vinícius, irmão do Lenísio, o Wilde, que tem passaporte português, o Ciço e o Caio, que têm passaporte italiano, ex-APE, de brasileiros. O restante são todos da seleção espanhola. São dois estrangeiros - eu e o Ciço - e quatro comunitários por equipe. Agora inclusive sai meu passaporte espanhol, viro comunitário e abro uma vaga para estrangeiro.

Esse ano ganhamos a Copa da Espanha do Móstoles. Disputamos quatro finais: perdemos nos pênaltis a final da Liga dos Campeões da Europa para um time da Rússia, ninguém conhecia os caras, e perdemos a Supercopa e a Liga para o Interviú. Ano que vem participamos da Recopa.


ON - Você já foi convocado para seleção brasileira. Pode jogar pela espanhola?

Maurício - Foi apenas um amistoso em fevereiro no Eslovênia. Não vale para isso porque tem que ser um torneio Fifa. Foram dois contra a seleção principal e outro contra a sub-21. Joguei poucos minutos nos dois primeiros e no outro quase o tempo inteiro. Tive uma recepção muito boa do PC (técnico). De fora ele parece uma coisa, mas lá dentro é um excelente treinador. Espero ser convocado novamente, mas acho que ele não vai continuar depois do Mundial (outubro). Ele quer voltar para Espanha, porque treinador de seleção não tem o dia-a-dia. Se acontecer fica mais difícil pra mim. O PC me conhece porque foi ele que me indicou para o El Pozo. Ele treinava o Playas.

Meu passaporte espanhol podia ter saído há três anos. Tentamos primeiro o italiano, mas aconteceram alguns problemas com o agente que estava vendo isso. Mas até dezembro sai. Acho mais fácil ser convocado para seleção da Espanha que para o Brasil. Teria que abdicar da seleção brasileira. Penso todo dia nisso. Desde o meu primeiro jogo no time de cima do El Pozo, que foi a semifinal da Supercopa, o treinador da Espanha estava lá. Eu era desconhecido e ele já perguntou quem eu era. Quando fui convocado para o Brasil o nosso técnico ligou para o espanhol e contou. O treinador da Espanha disse que não poderia fazer nada, mas que quando pudesse me convocaria.

Antes de ser convocado para seleção brasileira eu pensava em defender a Espanha. Mas quando o Reinaldo, dirigente do Brasil, te liga dizendo que você está convocado pesa muito. Falar agora que não vai para seleção brasileira é fácil. Acho que só vou decidir na hora que for chamado mesmo. Na seleção espanhola são sempre dois brasileiros que a comissão técnica convoca então há chance.


ON - Você já vai para o sexto ano na Espanha. O mais difícil foi o primeiro?

Maurício - O primeiro ano foi ruim. Sempre quando você muda é complicado. Fiquei na equipe filial por três anos. Era para ter subido no segundo ano, mas com os problemas de passaporte tive que ficar. No quarto ano resolveram subir mesmo sendo estrangeiro. Sempre as duas vagas no time de cima são para jogadores de seleção, com mais nome. O treinador disse me queria, mas os dirigentes, a imprensa, caíram em cima dele. O time sempre chegando em finais, buscando títulos e ocupa a vaga de um estrangeiro com um jogador da série B, desconhecido. Um ano antes o Lenísio, que fazia 60 gols por temporada, tinha ido embora. Provei em quadra. Desde o primeiro jogo. Fui titular e fiz dois gols (semifinal e final da Supercopa). Na temporada não marquei muito, pois jogava poucos minutos. Mas na decisão contra o Interviú fiz quatro gols, sendo o do título em Múrcia.

Ficha Técnica:
Maurício "Cebola"
Nome: Maurício Guterres da Silva
Idade: 24 anos (06/12/1983)
Natural: Passo Fundo/RS
Posição: Pivô Número: 2
Clubes: APE, ACBF, El Pozo Múrcia/ESP

(Fotos: Arquivo Pessoal)

Entrevista realizada em junho, durante as férias do jogador em Passo Fundo. Neste mês, Maurício esteve na lista dos 21 pré-convocados pela seleção brasileira para a Copa do Mundo de Futsal deste ano. Mas na relação dos 14 que vão ao Mundial divulgada esta semana pelo técnico PC, o passo-fundense acabou ficando de fora, preterido por nomes mais experientes como Falcão e cia. Fica para o futuro...

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