quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ele marca mais que lateral

George Lucas: o lateral-direito formado no futsal passo-fundense fala sobre a segunda temporada no Celta de Vigo, a vida na Espanha, seleção brasileira, rebaixamento e "marcação"


O Nacional - Como foi a última temporada?

George Lucas - De 43 jogos do Celta entre Liga, Copa do Rei e Regional, participei de 34. É difícil isso porque os técnicos revezam muito os jogadores. Meu reserva se machucou e isso colaborou. Só não participei dos primeiros porque me recuperava da cirurgia (fíbula e ligamentos do tornozelo).

Foi isso que me atrasou. No primeiro ano que fui para lá foram só quatro jogos. Na época o time estava na Série A. Fui o segundo melhor em campo contra o Barcelona e a lesão veio contra o Nástic. Operei lá e acabei retornando muito rápido. Agravou. Aí tive que operar de novo, duas vezes, mas no Brasil, com o Rodrigo Lasmar, médico do Atlético/MG e da seleção brasileira.

Acabei ficando quase um ano parado o que era para ser cinco meses. Aqui tive ajuda importante na minha recuperação dos fisioterapeutas Carlos de Maman e Gilnei Pimentel, professor da UPF. É complicado isso cara, porque tinha começado bem o campeonato. Se tivesse jogado aquele ano podia estar hoje até na seleção. Atrapalhou muito. O time acabou indo mal e caiu para segundona.

ON - Mudou muito a sua maneira de jogar?

GL - O futebol lá é mais ou menos o mesmo em todo lugar. São duas linhas de quatro e pronto. Lá jogo de lateral mesmo. Depois que a gente vai para lá se dá conta das diferenças daqui para lá. Não é tanto a marcação, mas é uma cultura tática. Tem pegada também, mas muito posicionamento. É eu contra o ponta da esquerda o jogo inteiro. Muita velocidade e intensidade. A segunda divisão então é muito mais pegada, jogo aéreo, bola por cima, e os pequenos jogando a vida contra a gente.

ON - Você tem contrato até 2011. Continua?

GL - Espero continuar, mas existem propostas da Espanha mesmo, França, Portugal e Brasil. Penso que ainda tenho mercado na Europa. O Wagner Cruz (empresário) está cuidando disso tudo. O Celta é um clube grande, como Grêmio ou Internacional aqui. Ir para um clube menor da primeira divisão não seria interessante. Inclusive se ficar mais um ano consigo o passaporte espanhol também. Já possuo o italiano. Não vai mudar muita coisa, mas futuramente pode ser importante.


ON - O que aconteceu que o time não subiu?

GL - O meio da tabela ficou todo embolado. Estávamos em 6º e nos últimos quatro jogos ganhamos apenas um jogo. Acabamos em 16º. Na temporada em que o time caiu, estava mal no espanhol, mas foi a semifinal da Copa Uefa. Nessa de priorizar o torneio europeu acabou descendo. E o ruim é que o investimento para a volta foi alto nessa temporada. Como não subimos, a verba diminuiu bastante.

ON - Alguma vez o pagamento atrasou?

GL - Lá eles pagam de uma maneira muito boa. Aqui no Brasil deveria ser feito assim. O Celta e mais nove ou dez clubes fazem isso. É pago uma porcentagem por mês do salário anual e o resto fica guardado. É feito uma soma e você só recebe mais ou menos o que precisa para viver. O resto é pago no final, quando acaba a temporada. É bom porque você se programa e não coloca dinheiro fora. Seria uma poupança forçada que o próprio clube faz. Você não vê ex-jogador mal de grana.

ON - E agora com a Espanha campeã da Euro?

GL - Eles tinham esse sonho, se preparam para ganhar, mas o problema agora vai ser agüentar eles. São muito "marrentos". Não sofri tanto porque sempre tem bastante brasileiro. E o que menos tem lá é espanhol. Tem gente de todos os países da América do Sul e Europa. Quando cheguei tinha o Iriney, o Fernando Baiano, o Nenê, o Roberto e o Éverton Giovanella de brasileiros. Os argentinos também são complicados. Quando cheguei o Placente, lateral-esquerdo, acabou indo para o banco.

Nessa última temporada ficaram eu, o Roberto (ex-Guarani e seleção sub-20) e o Diego Costa (ex-Atlético de Madrid). O Mazinho foi ídolo e ainda vive lá. Além do Giovanella que inclusive foi homenageado no último jogo. O sonho dele era encerrar a carreira lá, mas teve aquela acusação de doping. Ele nunca tomou nada. O cara até os 34 anos - 8 deles no Celta. Era o nosso pai lá.


ON - Você pensa na seleção brasileira?

GL - Claro. Sei que o Dunga me conhece e me chamaria se estivesse jogando em uma primeira divisão. Quem sabe as coisas mudam e surge uma oportunidade. Acredito muito no Rafinha, do Schalke 04, da Alemanha. É jovem e tem jogado como lateral mesmo, assim como eu.

ON - Você já passou por três rebaixamentos (Grêmio, Atlético-MG e Celta).

GL - Isso é o que me deixa mais triste. Porque se for analisar. No Celta não joguei, mas estava no grupo, assim como fui campeão da Copa do Brasil em 2001, porque fiquei no banco dois jogos. No final de 2003 estávamos mal, mas fui bem e tive muitas propostas. Nos últimos seis jogos fiz cinco gols. Terminei com nove no Brasileiro. Fiquei e em 2004 acabei jogando apenas oito jogos com o Adílson Batista. Mas não guardo mágoa de ninguém. Hoje marco mais que qualquer lateral (risos).


Ficha Técnica:
George Lucas
Nome: George Lucas Coser
Idade: 24 anos (20/02/1984)
Natural: Tapejara/RS
Altura: 1,75m Peso: 72kg
Posição: Lateral-esquerdo Número: 12
Clubes: Grêmio, Atlético-MG, Celta de Vigo/ESP


(Colaboração e fotos: Marcelo Alexandre Becker)


Entrevista concedida no dia 3 de julho deste ano em visita a sede de O Nacional durante as férias do jogador em Passo Fundo

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