Os colorados lembram dele nas finais do Gauchão contra o 15 de Novembro. Mas poucos sabem que aquele meia cabeludo e habilidoso é passo-fundense. Também pudera, aos 13 anos, o filho do Seu Camoca, foi para a Cidade Maravilhosa jogar no Flamengo. Distância parece não ser problema para o jogador que passou a última temporada na China
O Nacional - Conte um pouco da sua trajetória? O começo não foi aqui em Passo Fundo?
Maico Gaúcho - Eu joguei aqui futsal, mas muito novo comecei a sair, os times vinham me buscar para jogar em outras cidades aqui do Sul e em Santa Catarina. O meu pai era treinador do Caixeiral Campestre [o pai de Maico é o professor Camoca]. Com 13 anos eu fui para o Rio, jogar no Flamengo. Disputamos o Efipan em Alegrete, fomos campeões e eu fui o melhor jogador. Isso me projetou, era o meu primeiro campeonato e o Flamengo nunca tinha sido campeão. Do time todo ficaram apenas seis da época. De 1991 até 2000 fiquei na Gávea. Em 2001 saí e fui para o Cianorte do Paraná. Depois vim pro 15 de Campo Bom em 2002, onde fiquei até 2005. Em 2006 fui para o Remo, disputei a série B, foi bom para mim, fui o melhor jogador do Campeonato Paraense, joguei na ala esquerda. Sou ambidestro e até por isso o Flávio Campos, que tinha sido meu treinador no 15, estava lá e implantou um 3-5-2, assim eu tinha liberdade de entrar no meio, então isso facilitou muito meu jogo. Na série B conseguimos manter o Remo e esse ano caiu. Como tinha uma proposta para eu ir para China, para mim valia pena. Nem pensei duas vezes. Estava no Remo, mas já tinha acertado o negócio com os chineses, só que a multa recisória era muito alta, então não valia a pena sair, esperei acabar o contrato e em dezembro fechei com Nanchang Bayihenghuian.
ON - Como foi a temporada lá? Você era o único brasileiro?
MG - O clube fica em Nanchang, uma pequena cidade na China [para os padrões chineses] com cerca de 5 milhões de habitantes. Na China funciona assim: no início da temporada os clubes fazem uma seletiva. Os clubes que se classificam disputam o campeonato com os grandes clubes da China, porque lá eles não tem torneios regionais, só o nacional. Na seletiva, quem fica abaixo do 5º lugar não disputa a primeira divisão, que reúne 12 times. Quando eu cheguei lá, o time tinha ficado em 12º, tinha quase caído. Tivemos que disputar essa seletiva, eles esperavam ficar em 8º, 10º lugar. Estavam o Paulinho Marília [atacante, ex-América/RN], o Gabriel Lima [volante, ex-Fluminense] e eu, e nós ficamos em quarto no campeonato. Então agora, no próximo ano, vamos disputar a primeira divisão direto, não precisamos passar por seletiva. Quando cheguei lá, quem mais me ajudou foi o Ramba [Rambani Muntari, zagueiro canadense de origem ganesa] que já estava lá. Como eu sei falar inglês, então foi muito bom, porque ele já conhecia tudo e foi dando uns toques. É muito difícil com o treinador e com os outros jogadores, eles são muito fechados, é difícil conseguir entrar. O treinador é Li Xao, que já jogou na seleção, e por isso tem muita moral. O dono do time tem mina de ouro, tem muito dinheiro, e eles são quase como irmãos. Então, para nós, no começo, é difícil. Cheguei lá no inverno, mas aos poucos fomos nos adaptando e dos 24 gols da equipe no campeonato, 17 foram dos brasileiros e sete foram meus, então eles ficaram impressionados.
ON - E a adaptação à cultura oriental? Qual foi a principal dificuldade?
MG - A parte de adaptação é complicada, principalmente na alimentação. Em uma semana eu perdi 4 kg. Você não consegue comer, você vê umas comidas que você não imaginava: por exemplo, aqui a gente come rã, mas sapo, cobra, tartaruga, língua de marreco, isso é servido como a melhor coisa do mundo e virado em pimenta. Eu acostumado com arroz e feijão, churrasco. Não tínhamos privilégios. A gente chega lá e é mais um. Tem vários brasileiros lá que a gente não conhecia, mas alguns a gente se encontrava nos jogos como o Scheidt (zagueiro, ex-Grêmio), o André Leonel (atacante, ex-Remo), o André Turatto (zagueiro, ex-Portuguesa), mas a China é muito grande então não tinha como manter contato. Agora a parte de pagamento é muito organizada, os bônus, prêmios, apartamentos, eu morava com a minha mulher.
ON - E o futebol chinês? Muita moleza ou muita dureza?
MG - A parte tática é complicada também. É um sistema diferente, eles jogam à moda européia com quatro zagueiros atrás, o volante não volta para marcar, ficando o zagueiro na sobra. Os dois alas jogam do meio pra frente. São dois volantes e três atacantes. Os meias não tem que buscar a bola atrás e lançar. O que eles fazem, às vezes, se o time está perdendo, eles põem os zagueiros de atacantes, aí é só chuveirinho. Pra mim, que sou um jogador baixo, é complicado, mas o treinador gostava de mim, porque eu vinha buscar jogo e tinha espaço. Depois fui ficando conhecido e a marcação começou a apertar, mas no início tinha muita liberdade. Eles jogam por zona e marcam por zona, fica fácil pro jogador brasileiro que tem habilidade, porque na força e na velocidade eles são muito fortes. Eles são loucos por treinamento, preferem que você perca o jogo, mas não o treino.
ON - Volta para China ou pretende buscar outro país?
MG - Para voltar é complicado porque desgasta muito. Você tem que estar preparado física e psicologicamente. Tenho umas propostas agora e vou analisar antes de voltar para a China. É certo para eu voltar, mas o meu empresário está lá negociando com o clube, porque tem uma proposta do Miami Fusion, nos Estados Unidos, o time que o Zinho (tetracampeão mundial) assumiu como treinador. Seria uma oportunidade melhor, uma vitrine melhor e não haveria tanta dificuldade, tantas diferenças. Financeiramente também seria melhor, e o futebol dos Estados Unidos está crescendo.
(Esta entrevista foi feita 22 de novembro do ano passado. Maico acabou assinando no início do ano novamente com o Remo. Ele ainda disputou o Gauchão pelo 15 de Novembro)
Maico Gaúcho
Nome: Maico Gregori Farias
Nascimento: Passo Fundo, 03/03/1979
Posição: meio-campo
Altura: 1,70 m
Peso: 69 kg
Clubes: Flamengo (RJ)
Cianorte (PR)
15 de Novembro (RS)
Remo (PA)
Bayihenghuian (CHI)
(Foto: Arquivo Pessoal/MG)
quinta-feira, 5 de junho de 2008
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Muito boa entrevista. O Maico é bom jogador e torcemos para que mais este jogador de Passo Fundo se dê bem no panorama nacional.
ResponderExcluirEsse cara eu conheço. É gente fina, do melhor futebol. Aqui, no 15 de Campo Bom, sempre desempenhou com qualidade e força.
ResponderExcluirparabens pela entrevista..muito bom sabermos sobre pessoas aqui do sul que batalham no dia a dia pra poderem ser bem vistas e terem valorização profissional!!!
ResponderExcluirfoi boa a entrevista o mais importante e que consegui informaçoes do amigo maico o maico e gente boa e grande profissional preciso fazer contato ( CLOVIS DE BELEL/PA fone 91 32560068
ResponderExcluirClóvis
ResponderExcluirO número que tenho dele é o 54 9111 1486 e o da casa dele aqui em Passo Fundo é 54 3311 0712
Obrigado
Rapaz esse era o meia que é lembrado até hoje pela torcida do CLUBE DO REMO grande jogador espero ainda vê-lo jogando novamente com a camisa azulina!
ResponderExcluirGostaria de vê-lo jogando novamente no rio, de preferencia no Flamengo.
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