Nero Paulo Eli Andrade, 33 anos, passo-fundense, preparador físico da John Deere. Mais um dos sobreviventes do futsal de Passo Fundo. Mesmo com o trabalho questionado em meio à temporada, sua redenção foi o tricampeonato da equipe no estadual 2007. Mas depois de Passo Fundo sucumbir a três vices, os três títulos de Horizontina não bastaram e o clube atual campeão gaúcho perde o forte patrocínio da John Deere para 2008
Nero e Rafael Almeida (o segundo e o último, respectivamente, a partir da esquerda) na comemoração do tri, em pleno ginásio da UCS
O Nacional - O título estadual da John Deere este ano foi um dos mais difíceis?
Nero Andrade - Não dá pra dizer que foi o mais difícil, porque todos foram difíceis. Chegar numa final não é bem assim. Este ano teve um sabor especial, porque iniciamos um ano meio complicado. Na Taça Brasil não fomos bem, logo em seguida surgiram as lesões. Depois começou a Liga e mais lesões. O Walmir [com passagem por Passo Fundo], no primeiro jogo, machucou o joelho e ficou 30 dias parado. O Dão teve que fazer uma artroscopia logo após a Taça Brasil. Então o grupo foi ficando reduzido. Em relação ao ano passado, o grupo foi todo reformulado. Mais da metade do time era de jogadores novos. E nenhum deu certo. Todos que vieram, saíram. Então teve essa reformulação do ano passado para este e dentro de 2007 teve outra reformulação, em meio à temporada. No final da Liga veio o Rafael Almeida [outro com passagem pela cidade], o Felipe. O Jeffe teve problema de púbis, o Márcio [mais um que passou por aqui] teve que fazer uma cirurgia de hérnia. Então a gente teve que montar de novo. Não começamos bem o Gauchão. Pegamos os quatro times da Liga. No primeiro, a UCS, perdemos. Empatamos com a ACBF e com o Atlântico. Perdemos para a Ulbra em casa. Praticamente classificamos na última rodada, contra o Chapada, fora de casa. Ficamos em terceiro e conseguimos dar a volta por cima com aquela classificação que quase não esperávamos mais, porque as chances eram remotas. Precisávamos ganhar e dependíamos de resultados. Então deu tudo certo, e aquilo acabou fortalecendo o grupo, que ficou menor com o pessoal que saiu e por causa dos lesionados. Entramos forte na semifinal, mas estávamos desacreditados na cidade. Horizontina é pequena e o pessoal cobra bastante por que foi mal acostumado. Eles ganharam a série Bronze e a Prata, no primeiro ano estadual, e na Liga foram para a semifinal. Foram bicampeões estaduais. Então ficou a expectativa de que todo ano precisa-se ganhar. A cobrança foi maior este ano, e o grupo não era tão qualificado como nos outros anos. Então foi bastante difícil, mas muito prazeroso quando ganhamos o título.
ON - Quando existem muitas lesões, o preparador físico é cobrado?
NA - Cria um ponto de interrogação. Será que não é o trabalho? O que está acontecendo? Eu fui questionado, mas nenhum ano é igual ao outro. Todo ano, por mais que você queira fazer a mesma coisa você não consegue. Porque são jogadores diferentes, competições diferentes, lugares diferentes. Mas o trabalho em si você procura fazer direcionado para aquilo que você sabe que vai dar certo. Então não se muda muita coisa, por mais que você saiba que um ano não vai ser igual ao outro. Sabíamos que o trabalho ia dar resultado, que estávamos no caminho certo. Mas com os resultados negativos, sempre existe o ponto de interrogação e por causa das lesões também. Felizmente nós tivemos apenas uma lesão muscular, que daria para associarmos com o trabalho físico do dia-a-dia. Quem está no nosso meio não associa, porque sabe que é trabalhando que a lesão surge, do trabalho, esforço. Nós tivemos mais problemas de lesão de articulação.
ON - Você está há quatro anos na John Deere. Como foi o início desse trabalho?
NA - Em 2003, quando eles chegaram à Série Ouro, o Baio, treinador de Marau, foi convidado. Eles não tinham uma estrutura montada. Eles simplesmente saíram da Prata para a Ouro e acharam que seria a mesma coisa. Então trouxeram um treinador com experiência e, no mesmo ano, o time do Inter acabou e o Baio trouxe muita gente de lá e estruturou a equipe. O Baio é um cara conhecido no futsal e o pessoal acreditou nele. Ele dizia: 'Vem pra cá, o pessoal tem um projeto bom, os caras pagam em dia, não precisa ter medo, pode vir". Naquele ano eles classificaram para o play-off, mas não foram para a semifinal.
Então em 2004 surgiu o convite para mim. O Baio me explicou que o pessoal tinha um projeto de longo prazo - no ano seguinte eles pretendiam disputar a Liga. Então eles contrataram um grupo de nível, o Walmir, o Marcelinho, o Messinho. Eu vi que realmente o pessoal estava montando uma equipe competitiva. Foi aí que eu fui para lá. Porque em 2002 eu tinha trabalhado com o Baio em Marau no Delta/Negrinho. E em 2001 ele veio trabalhar na UPF para o lugar do Paulinho Cardoso. Ali que eu o conheci. Naquela temporada, o Baio acabou ficando apenas até a metade do ano. Não começamos bem a competição e, como eu falei, o pessoal é muito exigente e ele acabou saindo. A diretoria da John Deere me pediu para ficar até que fosse contratado um novo treinador. Eu disse que teria que conversar antes com o Baio e ele me disse para eu ficar, aí veio o Paulinho Sananduva, que está até hoje.
Em 2004 acabamos ficando na semifinal do estadual. Em 2005, no primeiro ano de Liga ficamos em terceiro. E no Gauchão fomos campeões em 2005, 2006 e agora em 2007, mesmo não sendo favoritos, porque a UCS estava invicta e acabou perdendo os dois jogos da final.
ON - Por que não tem mais time de futsal em Passo Fundo?
NA - Quando estava aqui, fomos para três finais. Em 1999, perdemos para a ACBF. Depois, em 2000, contra o Inter, empatamos lá e perdemos em casa. Depois quando era Ulbra Saúde, em 2003, perdemos também. Três vices em Passo Fundo. Mas foi perdendo a força. Não conseguiram mais patrocínio, porque sem isso você não consegue montar uma equipe. Por mais que você tenha vontade, um projeto bom, pessoas que são honestas, é muito difícil hoje conseguir um patrocinador. Acho que o principal ponto para Passo Fundo não ter mais futsal, para o esporte ter afundado aqui, é não ter patrocinador. Não mudaria, mesmo que houvesse um título. A UPF patrocinou um bom tempo e quando ela caiu fora, começou a cair.
ON - E qual é o planejamento para 2008?
NA - Infelizmente hoje pela manhã [20] recebi a notícia que a John Deere não vai mais investir na equipe. Estamos com o time montado para 2008. Contratamos alguns jogadores, mais alguns que permaneceram. Temos 16 jogadores mais a comissão técnica. Como a empresa cortou o recurso para o futsal o time não vai mais ter esse nome fantasia. A diretoria do clube até já começou a procurar um novo patrocinador, parece que existe uma rede de lojas que tem matriz na região que ficou interessada, o projeto foi apresentado, mas é aquilo que eu falei, é muito difícil.
Quando surgiu o nome do time era Esporte Clube Caipirinha. Quando eles foram para a Prata, o presidente achou que não pegava bem caipirinha com esporte. Então ficou ECC registrado na federação. E a John Deere era o nome fantasia. Não há vínculo nenhum com a empresa, apenas o investimento no futebol. [A John Deere investia R$ 1 mi por ano]. O motivo alegado é que seria uma determinação da matriz estadunidense da empresa de que não haveria mais interesse em patrocinar o time. O Sananduva já foi para o Joinville. Eu fui liberado, caso houvesse uma proposta melhor, assim como os jogadores. A diretoria afirmou que mesmo assim vai montar um time para disputar a Liga, o Estadual e as demais competições, mas sem um apoiador forte será bem mais complicado. Por enquanto, ficamos para a história de Horizontina.
(Esta entrevista foi feita 28 de dezembro do ano passado. Nero continua no agora Horizontina Futsal, que disputa o Estadual Série Ouro e a Liga Futsal)
quinta-feira, 26 de junho de 2008
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