sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A primeira do herdeiro

Vôlei: prestes a disputar a primeira Olimpíada, o ponta passo-fundense Murilo Endres assiste a despedida do irmão da seleção e se prepara para suceder uma geração vitoriosa


O Nacional - Como está a expectativa para a disputar a primeira Olimpíada?
Murilo Endres - É difícil falar de Olimpíada em meio as finais da Liga Mundial, que também são bastante importantes para gente. Mas pensando no futuro, quando a gente começa a fazer esporte, ou quando vira profissional, tem como objetivo jogar uma Olimpíada, chegar lá, e talvez vencer, e para mim vai ser um sonho realizado, assim como foi o meu primeiro campeonato mundial, em 2006, pan, ano passado aqui no Rio, e agora nesse ciclo, tentar fechar bem com uma Olimpíada.
Não vou mentir, a ansiedade só vai aparecer quando acabarem as finais, que a gente vai relaxar e realmente pensar nas Olimpíadas. Vamos para o Japão para uma adaptação, e nessa semana que antecede a estréia vai bater uma expectativa.

ON - Como foi a entrada na seleção com a presença do irmão Gustavo na equipe?
ME - Foi normal. A gente conversava bastante antes de eu chegar na seleção, jogamos juntos no Banespa. Acho que a minha entrada no vôlei em si foi mais difícil que a chegada na seleção porque sempre fui muito tachado de ter mais oportunidades, ou de estar garantido, por ser irmão do Gustavo. Então isso me deixava muito irritado, ficava muito triste com essas coisas. Mas para entrar na seleção não teve problema nenhum, também porque é difícil entrar na seleção só por ter um irmão lá dentro. Mas as pessoas ainda associam muito meu nome ao do Gustavo, às vezes elas não sabem meu nome, mas sabem que sou irmão dele. Mas aos poucos, para falar a verdade desde 2003, estou conseguindo diferenciar um pouco as nossas carreiras, os nomes, e as pessoas já reconhecem o meu trabalho.

ON - Qual a sua opinião a respeito da aposentadoria dele, como irmão e colega?
ME - Apóio porque é uma decisão dele, não vou dizer que é precoce, porque ele está há mais de 10 anos na seleção, estou aqui e sei que não é fácil agüentar esse ritmo. No dia-a-dia a gente conversa e sei do sofrimento dele de estar longe da esposa e dos filhos, ver as crianças crescendo. Ele queria estar lá. Além do estresse que é muito grande. Então chega um tempo em que a gente tem que priorizar a família porque até hoje ele deu 100% a seleção. Acredito que seja esse o sentimento dele, mas tenho certeza que ele vai sentir muita falta. Até brinquei que ele vai conseguir ficar longe no máximo uns três meses, depois vai pedir para voltar (risos). Mas apóio, acho que ele tem que descansar mesmo, e aí, no futuro, se tiver vontade de voltar as portas vão estar abertas.
Para seleção vai ser uma perda complicada, mas por sorte o Brasil tem jogadores que conviveram com ele nesses últimos dois ou três anos, aprenderam bastante, caso do Eder, do Lucas e do Cidão, e isso ajuda bastante eles nessa adaptação.


ON - Como é ter a responsabilidade de substituir uma geração tão vitoriosa?
ME - É difícil pensar, mais a gente escuta da imprensa porque não tem como pensar agora, a gente não sabe quem vai estar ano que vem, quem vai parar. Eu sei que o Brasil, mesmo que continue o mesmo grupo ano que vem, com certeza vai sofrer uma pressão muito grande para cima de todos que estiverem aqui. E aí, citando o caso do Gustavo, do Marcelo, do André (Heller), do Anderson, que talvez parem, vai haver novos jogadores que vão chegar e precisar de um período de adaptação, porque vai mudar o time e o Brasil vai ter que continuar ganhando. Eu espero que sim, mas vamos ter que estar preparados, pois não vamos ter esse entrosamento de hoje. Então teremos que nos preparar psicologicamente para isso.

ON - Você é reserva do Giba, capitão e melhor jogador do mundo, e apontado como futuro líder dessa seleção (foi capitão na última Copa América, disputada pelos reservas - derrota para os EUA na final). Se sente preparado para a liderança?
ME - Não são as pessoas que fazem de você um líder, você tem que conquistar isso dentro de quadra, no dia-a-dia, então vai depender muito das pessoas que entrarem, que saírem. Acredito que o Giba não deve sair no ano que vem, então por pelo menos mais dois anos, até o mundial, ele fica como capitão, como líder desse grupo, por mais que não esteja sozinho, tem o apoio do Gustavo e do Serginho, que são líderes dentro do time. Vou dar toda a minha contribuição, aqueles que ficarem, casos do Rodrigão, do Dante, vão me ajudar nessa transição. Não posso falar que eu vou ser o líder porque depende de uma série de situações.

ON - Como é o seu relacionamento e dos mais novos com o técnico Bernardinho?
ME - Ele sempre trata todo mundo igualmente. Respeito e admiro muito o trabalho dele, por tudo que fez e vem fazendo pela seleção. Quando você chega aqui é difícil se acostumar com o gênio, com o jeito dele trabalhar, é muito exigente, nos jogos acaba até mesmo te irritando, a palavra certa é "te enchendo o saco", porque quer sempre a perfeição praticamente, e a gente está ali tentando se concentrar. Se você não conhece, acaba até mesmo desconcentrando, mas depois com o tempo vai acostumando e sabe que é o jeito dele, que está dando certo e acho que deve continuar. Estou preparado para lidar com ele por um bom tempo (risos).

# 8 - Murilo Endres
Posição: ponta
Altura: 1,90 m Peso: 76 kg
Data de nascimento: 03/05/81
Local: Passo Fundo (RS)
Ídolo: meu pai Arnildo
Em 2000, conquistou o vice-campeonato Sul-Americano juvenil. Foi campeão mundial juvenil em 2001. Esteve nos grupos que venceram a Liga Mundial em 2004, 2005, 2006 e 2007. Também em 2005, conquistou a medalha de ouro na Copa dos Campeões. Na última temporada, defendeu o Pallavolo Modena (ITA). Campeão mundial de 2006. Em 2007, foi campeão Pan-Americano, Sul-Americano, da Copa do Mundo e medalha de prata da Copa América, competição na qual foi o capitão da equipe brasileira.

(Fotos: Silvio Ávila/FIVB)

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