Formada pela Federação Mineira de Futebol, a passo-fundense de coração - como define - Anna Paula Cristoffoli Torres se tornou árbitro de futebol. Mas evite comparar essa gaúcha de 25 anos nascida em Ijuí e de personalidade forte com a bandeirinha paulista Ana Paula de Oliveira. Confira essa arriscada entrevista.
O Nacional - Como surgiu essa história de se tornar árbitro de futebol?
Anna Paula - Bom, desde nova eu sempre tive muito contato com futebol. Meu irmão é fanático. Depois me casei com um outro fanático. Quando o Internacional perdeu o título brasileiro, há dois anos, fiquei indignada com os erros de arbitragem. Mas hoje lido com essa questão de maneira profissional. No ano passado eu comecei a observar mais as arbitragens. Comecei a ler mais, me informar sobre regras e acabei me interessando em fazer o curso.
ON - E como foi o curso?
AP - Foram oito meses de aulas, minha formatura foi em 3 de dezembro. O curso me habilita a arbitrar nos campeonatos regionais, inicialmente aqui em Minas, e a partir do próximo ano já estarei em treinamento para os testes da CBF, teórico e prático.
ON - Que parte foi a mais difícil?
AP - A parte mais difícil é colocar a teoria na prática. Você tem a regra e as instruções na cabeça mas quando está no campo tudo é muito rápido, as decisões tem que ser tomadas em segundos. Isso é uma dificuldade no início, pois não pode haver dúvidas. Você tem que estar consciente e decidido para tomar qualquer atitude. Essa parte se estende agora depois de formada, principalmente nesse primeiro ano.
ON - Mas você já apitou alguns jogos, qual foi o mais complicado?
AP - Foram três jogos: dois do campeonato mineiro júnior e uma final feminina da Copa Centenário, em Belo Horizonte. Nessa final feminina atuei como quarto árbitro e, para ser sincera, foi a mais "complicada".
ON - Por quê?
AP - Existe um certo preconceito da parte dos homens quando se deparam com um árbitro feminino, mas, em seguida, o respeito e a educação equilibram. Já com as mulheres foi um pouco diferente. Elas não têm muito limite, porque se sentem no mesmo nível e, de certa forma, estão, por sermos do mesmo sexo, mas no futebol, a arbitragem é a autoridade máxima dentro do campo de jogo, e elas muitas vezes não conseguem entender tal hierarquia.
ON - O que a família achou da sua escolha? O marido não fica com ciúmes?
AP - Essa é uma escolha em que tem que haver o apoio de todos na família, principalmente do marido. Antes de fazer o curso conversamos muito sobre o assunto. Ele achou que eu tinha perfil para arbitrar, pois aqui em Minas eles me acham "brava" (risos), normal de gaúcha, ter personalidade forte. Além disso tem me incentivado bastante nos treinamentos e também estudado comigo os jogos. Minha mãe falou que vai começar a torcer pelos árbitros (risos).
ON - Cite algum árbitro que você admire.
AP - Paulo César de Oliveira. Considero ele bem coerente e sereno.
ON - Qual é o sonho para a carreira? Quais os objetivos?
AP - Tenho que treinar muito, me condicionar bastante para poder atingir os objetivos. Na arbitragem não basta ter conhecimento teórico, tem que ter um bom preparo físico. Estou me preparando para esse ano começar de fato a arbitrar, adquirir experiência nos campeonatos amadores e juniores, para rapidamente atuar no profissional. Pretendo em, no máximo, três anos estar no quadro da Confederação Brasileira de Futebol. E em 2014 atuar, pelo menos, como 4º árbitro na Copa do Mundo aqui no Brasil (risos).
ON - E o preconceito, como lidar com ele?
AP - Com humildade, respeito e capacitação conseguirei o meu espaço. Creio que é um grande momento, o futebol feminino no próximo ano contará com mais incentivo, assim, conseqüentemente, a arbitragem feminina também irá se beneficiar. Não adianta reclamar do preconceito e sim agir contra ele. Se homens e mulheres estão sendo testados de forma equivalente, acho que já é um grande passo para o preconceito diminuir.
ON - Não tem como não perguntar: rola muita brincadeira por causa do seu nome?
AP - (Silêncio) Bom, quando eu entrei no curso, meu professor me apresentou assim: 'Já que a federação paulista tem uma Ana Paula, nós aqui em Minas também temos uma, só que essa é loira, gaúcha e brava!' Aí, na turma, não houve brincadeiras e todos sempre me ajudaram e respeitaram meu nome. Mas é inevitável pessoas de fora não compararem com a Ana Paula paulista, mas logo eles observam a enorme diferença entre as duas e aí o assunto se encerra. Já estou acostumada a essa comparação. O dela é com apenas um "N" e o meu é com dois (risos).
ON - Posar nua, nem pensar? (risos nervosos)
AP - (Silêncio maior) Posar nua nunca, de jeito nenhum, é contra os meus valores.
(Foto: arquivo pessoal/AP)
quarta-feira, 21 de maio de 2008
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Posar nua é contra os valores? Quanto?
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