segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

ON # 027 - As belas dos camarotes; Como seria..; "Grêmio vence o Canoas (?)"; Passo Fundo na Segundona; Daniel recebe vaga; Boleiros...

As belas dos camarotes
Na sexta-feira (22), em meio aos gols da rodada, acompanhamos a vibração das belas Viviane Araújo, nos camarotes dos Aflitos, torcendo pelo namorado Radamés (Náutico), e Deborah Secco (foto), nos camarotes do Olímpico, torcendo pelo namorado Roger (Grêmio). Em função do curto tempo de TV, vários gols não são mostrados, principalmente em partidas com vários, ou consideradas não tão importantes pelos editores. Se começarem a concorrer com as belas dos camarotes, que vão aumentar, teremos o bloco esportivo dos gols e da coluna social das famosas. Infelizmente (ou felizmente), perdemos câmeras: agora é uma no campo e outra no camarote.
(Foto: Arquivo/ON)
Como seria...
A revista Placar deste mês faz uma simulação de como seria se o nosso calendário fosse adaptado ao europeu. Copas internacionais: (dezembro a maio) Libertadores e Sul-Americana aconteceriam simultaneamente (como ocorre com a Liga dos Campeões e UEFA); Copa do Brasil: (outubro a maio) aconteceria simultaneamente ao Brasileirão - elencos grandes + campeonatos nacionais aos finais de semana + copas no meio da semana; Estaduais: (agosto a setembro) única forma de mantê-los seria fazer torneios curtos, como parte da pré-temporada; Férias: (junho a julho) europeus param para aproveitar o calor. Nós, o frio.

"Grêmio vence o Canoas (?)"
A obsessão pela propaganda não gratuita é grande em alguns canais de TV. O Sport Club Ulbra é clube de futebol constituído. A Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) investe os tubos no esporte - marketing pouco explorado no país. Merecia ser citada. Depois não adianta reclamar que não tem investimento no esporte brasileiro.
Acontece também na Superliga de vôlei feminino, por exemplo. Conhecemos os dois times do momento: Osasco e Rio de Janeiro. Mas desconhecemos o investimento que fazem Finasa e Rexona para manter as equipes que são a base da seleção brasileira.
Por outro lado seguidamente patrocinadores mudam e o nome "fantasia" do time altera, não criando identidade para formação de uma torcida. A questão é polêmica. Porém, o esporte não sobrevive sem investimento, e vice-versa, um depende do outro.

Passo Fundo na Segundona
O clube promoverá na sexta-feira (29) um jantar festivo no CTG Lalau Miranda. Serão apresentados os uniformes, plantel de jogadores e comissão técnica para a disputa da Série B do Gauchão, além do retorno do site oficial (www.esporteclubepassofundo.com.br) marcado para 3 de março. O jantar terá início às 20h30 com ingressos a R$ 15, que podem ser adquiridos na secretaria do Vermelhão da Serra ou com os conselheiros do clube. Informações: 3312 0802 e 3327 0110.

Daniel recebe vaga
O chileno Fernando González decidiu não disputar o ATP de Memphis, que começa nesta segunda-feira, sobre piso coberto, e quem ganhou com isso foi o passo-fundense Marcos Daniel. Ele era o primeiro na lista do qualifying e assim poderá disputar a chave principal do torneio, que tem premiação de US$ 769 mil. O principal favorito é o norte-americano James Blake, top 10. Além dele, confirmados: Tommy Haas e Marat Safin.
Boleiros... Quando eles eram apenas crianças
Parafraseando o "como era e como está" de Milton Neves, seguimos com o nosso, mais contemporâneo, desta vez com Wayne Rooney, atacante do Manchester United e da seleção inglesa. Pergunta: está melhor agora ou quando criança? Sem resposta.
(Foto: Divulgação)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ancheta - Alma Oriental (parte 1)

Na primeira parte da entrevista com Ancheta, o ex-jogador fala sobre o início da carreira e sua ascensão ao posto de melhor zagueiro do mundo com a camisa celeste

Paulo Roberto D'Agustini/ON

O Nacional - Como iniciou a sua carreira no futebol?
Ancheta - Morei em Florida [cidade histórica do Uruguai, onde foi declarada a independência do país] até meus 14 anos. A família Ancheta era muito conhecida no futebol. Meu pai jogou muito, era ponta-esquerda. Meus irmãos maiores, sou o caçula, também jogavam bem. Três deles foram trabalhar em Punta del Este e jogar futebol, bem jovens. Um dos meus irmãos chegou a atuar nas categorias de base do Nacional e na 1ª Divisão pelo Cerro-URU. Ele sempre dizia que tinha um irmão menor que jogava muito e que se lhe conseguissem um emprego, ele viria jogar. Deu certo e fui jogar pelo Club Punta del Este e trabalhei no Parador Praia Brava.

ON - Dali para o Nacional foi um tapa?
Ancheta - Eu fazia muitos gols, jogava de centromédio, era magro, alto, corria muito, então os próprios dirigentes do Punta, o Toto Carratu e o Flaco Gonzales, decidiram que eu não podia ficar lá, tinha que ir para uma categoria de base de Montevidéu. Um deles torcia para o Peñarol e o outro para o Nacional. Decidi ir para o Nacional primeiro, porque era torcedor do clube. Se não desse certo, tentaria o Peñarol. Jogando na rua, em Florida, eu sempre dizia que era o Emilio Alvarez, zagueiro uruguaio do Nacional, que tinha uma técnica maravilhosa. Comecei a treinar no clube com dificuldade, era junho, havia muita chuva, era magro, corria muito e o campo era pesado. O técnico San Vicente, uma figura muito conhecida dos futebolistas uruguaios, disse-me após 15 dias de testes: 'Ancheta, meu amigo, conhece muito futebol, você deve jogar muito bem, não acredito que você seja tão ruim.' Pensei: 'Vou embora.' Mas ele continuou: 'Por eles vou te deixar mais 15 dias.' Agradeci e continuei treinando normalmente porque achava que estava bem. Então ele começou a me testar em diferentes posições até chegar a zagueiro. Passou os 15 dias e acabei ficando como suplente. Só que o titular pela direita se machucou para a estréia do campeonato. Joguei o primeiro jogo logo contra o Peñarol. Ganhamos. Fui eleito o melhor em campo. Quando o zagueiro titular voltou, foi para o lado esquerdo, como meu companheiro. Tinha 16 anos.

ON - E você jogando da mesma maneira?
Ancheta - Sempre procurei jogar aquele mesmo futebol do tempo de Florida. No início foi difícil, mas depois as pessoas começaram a me elogiar e eu pensava 'Será que joguei tão bem assim?' E assim foi a minha vida, sempre elogiado, mas sempre com uma autocrítica muito grande. Tanto que nas duas vezes em que fui expulso em toda a minha carreira foi por que me xinguei e o juiz entendeu que tinha sido para ele. Na primeira eu recém havia começado pelos profissionais contra o Cerro-URU. Dois jogadores mais velhos começaram e brigar. Fui separar e acabei expulso. A outra foi contra o Vasco, pelo Grêmio. A bola estava no meio campo e o Dinamite tocou por cima de mim. Botei o corpo, mas podia ter girado e ido atrás dele, por isso me xinguei. O árbitro pensou que tinha sido para ele.

ON - Você procurava ser diferente dos demais zagueiros sul-americanos?
Ancheta - Eu gostava de jogar tecnicamente. Gostava de jogar futebol. Dentro do regulamento. Meu pensamento era assim 'Se passaram por mim é porque são melhores que eu'. Claro, eu botava o corpo, era firme, às vezes até exagerava, mas na maioria das vezes pensava em jogar meu futebol. Tinha muita gente ao meu redor que batia muito e eu saia mais jogando, porque aprendi a ser um zagueiro mais técnico com o Emilio Alvarez, que acabei jogando ao lado, e também o Jorge Manicera, outro jogador maravilhoso, que não cabeceava, parava a bola no peito e saía jogando, e ele não era tão alto. Esses dois foram meus espelhos.

ON - E como foi defender a seleção celeste?
Ancheta - A seleção, como tudo na minha vida, foi uma surpresa. Trabalhava muito, corria muito, mas mesmo assim achava que não merecia. Sentia-me bem fisicamente e achava tudo aquilo fácil. Mas não admitia isso dessa forma. Mesmo assim continuava simples no meu pensamento. Fui chamado para as eliminatórias. Eram oito jogadores do Nacional, dois do Peñarol e um do Defensor. Nos classificamos para a Copa, no último jogo, contra o Equador no Centenário, com um gol meu de cabeça, em um cruzamento do Cubilla, aos 43 minutos do 2º tempo. Foi maravilhoso.

ON - A Copa de 1970 seria o primeiro e maior desafio da sua carreira?
Ancheta - Foi o primeiro desafio na seleção e o único. Depois tive problemas para ir à seleção. O Grêmio não me liberou e aconteceram coisas que foram muito ruins para a minha carreira. Poderia ter saído, ganhar mais dinheiro, estar melhor hoje em dia. Poderia ter me transferido para outros clubes, mas não queria, porque pensava muito amador. Não queria sair porque acreditava que tinha que ganhar campeonatos pelo time que me contratasse. Era muito orgulhoso nesse aspecto e, às vezes, as coisas não são assim. Muitas vezes a vida nos leva a ter outro tipo de pensamento. Eu tive as oportunidades e não as quis, e quando queria, elas não vieram.

ON - Mesmo assim, outro motivo fez aquela copa inesquecível?
Ancheta - Claro, ter sido eleito melhor zagueiro da copa foi maravilhoso. Fui para o México treinando muito, sabendo que era titular, mas tinha que batalhar bastante. Era a primeira vez que eu ia a um campeonato mundial. Mas estávamos confiantes. Tínhamos uma boa equipe. Nos faltava apenas um centroavante. Pedro Rocha, que era meio-campo, e atuaria como centroavante, machucou no primeiro jogo. Depois Victor Espárrago, que também era centromédio, foi para o ataque.

ON - Para o Brasil aquela semifinal foi uma revanche de 1950. E para vocês?
Ancheta - Encaramos o Brasil com respeito, porque sabíamos que era uma grande equipe, que estava indo muito bem, mas nós sabíamos que também nós tínhamos nos classificado bem e que seríamos respeitados. Tanto que o jogo foi difícil, mesmo que o placar tenha sido 3 a 1. Se você analisar todo o jogo as dificuldades foram iguais, os gols do Brasil foram em algumas oportunidades e nós perdemos outras muito claras. Quando estávamos ganhando, podíamos ver o semblante assustado dos brasileiros. Conseguindo fazer o primeiro gol, eles respiraram. Nós tínhamos jogado 120 minutos na chuva contra a URSS nas quartas-de-final e chegamos um dia antes a Guadalajara. Saímos da altitude, com uma temperatura de 15º, e fomos para 35º ao nível do mar. Isso nos debilitou muito.

ON - Tamanha era a marcação, que Pelé acabou perdendo o controle.
Ancheta - Não foi por que ele foi bem marcado não. Foi sacanagem do Fontes mesmo. Até porque não tinha como marcar o Pelé individualmente. Fiz uma falta nele na entrada da área. Quando levantei, ofereci ajuda. Não foi uma falta forte, Pelé cavou um pouco também. Ele pegou a minha mão e apoiou a outra no chão. O Fontes passou e pisou em cima. Pelé olhou e ficou quieto. Eu disse 'não dá bola, foi sem querer.' Ele acabou revidando com um cotovelaço. Foi muito inteligente. Fontes foi dar um carrinho para roubar a bola, e o Pelé na queda deixou o braço. O Fontes chegou a levantar as pernas. O juiz não viu e ainda foi marcada falta contra a gente. Acho que ninguém sabe desse pisão do Fontes. Mas eu vi.

(segue na próxima postagem)

Ancheta - Alma Oriental (parte 2)

Na segunda e última parte da entrevista com Ancheta, o ex-jogador fala sobre o Grêmio, o início como treinador e se emociona com o ídolos esquecidos

Paulo Roberto D'Agustini/ON

O Nacional - Como foi sua ida para o Grêmio?
Ancheta - Havia sido campeão da Libertadores e do Mundial com o Nacional. Quando voltei para Montevidéu, fui informado que estava sendo vendido para o Grêmio. Fiquei feliz. Aceitei, porque achava interessante ficar perto do Uruguai, já que naquela época zagueiro dificilmente passava do Brasil. Aproveitei a oportunidade, que era vantajosa, embora não exorbitante como os valores de hoje em dia. Como melhor zagueiro do Mundial recebi US$ 2 mil. Às vezes, as pessoas dizem que antigamente ganhava-se bem. Eu fui para o Grêmio e não consegui comprar um apartamento. Naquela época eu pensava que voltaria logo para o Uruguai. Então dei entrada em uma casa lá e fiquei cinco anos pagando prestação.

ON - Foi uma época difícil, já que o Inter dominava. Mesmo assim você foi ídolo.
Ancheta - Fiquei de 21 de novembro de 1971 até outubro de 1980. Para mim foi muito bom. Não posso dizer que foi ruim, porque assim como na vida, no esporte acontecem coisas boas e ruins. Passei de tudo. O Inter estava no auge, mas, apesar de dizerem o contrário, o nosso time era tão bom quanto o deles, tanto que perdíamos os campeonatos gaúchos por um ponto, por um clássico. Eu dificilmente deixava de jogar os clássicos, achava que por detalhes nós os perdíamos. Estava acostumado no Uruguai a ganhar e perder, mas aqui a gente só perdia. Não estava certo. Então eu sempre tinha esperança de no próximo ganhar, por isso jogava todos. Às vezes tiravam o time principal, porque tinha um jogo do campeonato nacional, mas eu não saia, não queria era estar fora do time.

ON - Quem era melhor: Ancheta ou Figueroa?
Ancheta - Isso depende de cada torcedor. As características são diferentes e as comparações sempre são importantes na vida. Digo que fomos grandes jogadores. O Figueroa era um zagueiro mais forte, e eu mais clássico, mas cada um rendendo o que poderia. Ele tinha muita qualidade também, mas usava mais a força que eu. Não tínhamos muito relacionamento, porque a própria torcida nos impedia na época. Mas sempre nos tratamos muito bem e conversávamos. Mas éramos apenas cordiais em função da rivalidade que existia, porque cada jogo era uma briga.

ON - Em 1975, apesar da proposta, você decidiu ficar.
Ancheta - O São Paulo quis me comprar e um dirigente do Grêmio chorou para mim, dizendo que eu não podia sair, que sem mim seria difícil ser campeão. Resolvi cumprir. Mas não ganhei nada a mais por isso. Acabamos sendo campeões em 1977 e 1979. O time era muito bom. Fizemos uma excursão para a Espanha e América Central e ganhamos tudo. Acredito que no futebol deveria se criar um espaço dentro da pré-temporada para esse tipo de excursão fora do país. Isso dá união, conhecimento do companheiro, que é muito importante dentro do campo também. Sempre falei para a direção do Grêmio: 'Nós temos que fazer uma excursão, vocês não sabem a união que dá ao grupo'. E o Inter saia. E o Grêmio não. Até que saímos em 1976 e deu resultado no ano seguinte. Todo clube deveria fazer isso.

ON - E a saída do Grêmio? Foi um momento complicado.
Ancheta - Foi muito triste. Em 1979 fomos campeões. Fiz o gol do campeonato. Saímos com 10 pontos à frente do Internacional. Na história acredito que nunca tenha havido tanta diferença de um rival para outro. Em 1980, o Telê [Santana] saiu e veio o Espinosa [Valdir]. Aí não sei por que, ele me afastou do time. Nunca me deu explicação e eu também nunca pedi. Como sou uma pessoa que acato ordens, não forcei nada. Mas o que me chateou muito foi que ele me deixou treinar, mas não com o plantel. Ele me tirou como se fosse um qualquer. Foi injusto pelos quase nove anos que passei no Grêmio. Até hoje a torcida reconhece que fui um jogador exemplo. Não gosto de recordar, porque me magoa muito [neste momento Ancheta faz uma pausa, seus olhos ficam marejados]. Foi muito difícil, porque eu sempre me doei, perdi de ganhar de dinheiro para ficar no Grêmio, para cumprir minha obrigação como jogador, como pessoa. Fui exemplar em toda a minha vida e vou ser sempre, porque meu comportamento vai ser sempre igual e não fui correspondido, me magoei, aceitei, me deixaram treinando quase um ano sozinho, nem com a categoria de base. Até que o Valdomiro [ex-Inter] me ligou da Colômbia, disse que precisavam de um zagueiro, que sabia que eu estava com dificuldades. Então fui pedir para me deixarem livre. Quando estava de saída, disseram que eu havia chegado 3 minutos atrasado ao treinamento e o Espinosa não queria de jeito nenhum que chegassem tarde. Ninguém saiu em minha defesa. Ninguém. Essa foi minha maior mágoa.

ON - Como foi superar isso tudo?
Ancheta - Foi duro. Fui embora para a Colômbia. Passamos um ano relativamente bom. O Millionarios tinha alguns brasileiros, mas bateu a saudade de voltar para o Uruguai. Ali ganhei um pouco mais de dinheiro. Estava há muito tempo fora, tinha saído chateado do Brasil, estava com 31 anos... voltei para o Nacional. Mas aí o clube estava com outro tipo de cabeça, tinha mudado tudo, o pensamento deles era muito físico. Corria como um louco e nunca jogava. Aí que o São Paulo quis me comprar de novo. Eles estavam jogando a Libertadores em 1982, o Minelli [Rubens] era o técnico, que era do Inter, quando eu jogava no Grêmio. Acertei com eles. O Dario Pereyra era o outro zagueiro, queriam fazer a parceria uruguaia. Fiquei felicíssimo. Eles jogariam dois jogos na Argentina e depois me pegariam para voltar ao Brasil. Naquela semana torci o joelho e aí me enfaixaram por 15 dias. Quando vieram me buscar, se surpreenderam que eu estava mancando. Disse que era apenas uma torção, em uma semana estaria resolvido. Então eles disseram que precisavam para um jogo em São Paulo naquela semana e que para depois não 'interessava'. Saí do hotel e larguei o futebol. Parei.

ON - Depois você ainda tentou ser treinador?
Ancheta - Fiquei mais um tempo no Uruguai sem fazer nada. Chateado. Resolvi voltar ao Brasil. Tentei entrar nas categorias de base do Grêmio.Enrolaram e não me deram oportunidade. Daí me separei do futebol. Foi muita desilusão. Mas continuo com a mesma postura. Importante é você ter o teu reconhecimento. E a torcida, que também reconhece.

ON - Mas o futebol não quis ficar longe?
Ancheta - Fui morar em Ingleses-SC e o Sérgio Lopes [ex-jogador catarinense do Grêmio] morava lá. Estava no jardim e ele passou de bicicleta. 'Você não é o Ancheta?'. Ele ficou supercontente de ter me encontrado. Disse que precisava conversar com alguém que tivesse influência sobre jogadores. Ele estava treinando o Avaí e o time não vencia o catarinense há 13 anos. Estava formando o grupo e precisava de alguém para ajudá-lo. Futebol eu não tinha deixado de gostar. Estava magoado lá por Porto Alegre. Aceitei o convite e deu certo. Começamos a trabalhar e foi maravilhoso, porque saímos campeões em 1989.

ON - E como surgiu essa oportunidade agora?
Ancheta - Tive a oportunidade agora. Sempre tive escolinha de futebol, faz 15 anos, em Porto Alegre, e por último em Santo Antônio da Patrulha. Fui assaltado em 1992 na minha própria casa, na Capital. Foi um momento difícil das nossas vidas e decidimos ir para Santo Antônio, cidade da minha segunda esposa. Mas sempre treinando times em campeonatos municipais, regionais, porque isso dá uma experiência muito boa de conhecimento de grupo. Os convites chegavam sempre depois que perdiam o primeiro jogo. Depois transcorria e éramos campeões. No outro ano era o mesmo jeito. Conhecia o time em andamento e saíamos campeões. Mas nunca me decidi ser técnico profissional. Minha esposa sugeriu que eu voltasse ao futebol. 'Você tem conhecimento, tem nome, tem personalidade, parte pro futebol'. Falei com o Noveletto [Francisco, presidente da Federação Gaúcha de Futebol] e alguns empresários. Em seguida recebi essa oportunidade. Acertamos fácil, porque minha pedida era pequena. Quero recomeçar essa trajetória.

ON - Como é voltar e recomeçar aos quase 60 anos?
Ancheta - Acho que nunca é tarde. Tenho uma aparência física muito boa, sou uma pessoa que me cuido muito, me relaciono bem com todo mundo e tenho certeza que, se colocarem um bom plantel a minha disposição, farei um grande trabalho. Tenho certeza. Sei que vamos ter dificuldades devido aos problemas financeiros, mas temos que correr esses riscos. Tenho certeza que meu trabalho vai ser visto.

ON - Como você vê o tratamento que o ídolo do futebol recebe?
Ancheta - Às vezes, as pessoas pensam que a gente ganha muito dinheiro, que teve tudo. A gente tem dificuldades também e hoje em dia nós temos que continuar procurando, porque aqueles jogadores que éramos ontem não recebiam grandes fortunas como se ganha hoje. Os que se deram bem é porque investiram num comércio, em alguma coisa importante. Estão trabalhando e isso deu lucro para eles. Senão estariam do mesmo jeito que nós todos estamos. Com dificuldade, lutando, trabalhando, para que as coisas aconteçam. E outros se deixaram cair demais por causa da falta de incentivo. O que é uma injustiça, porque eu acho que pelo que o jogador de futebol dá, ele tinha que ter alguma proteção. O jogador não está preparado para deixar de jogar futebol, mas as federações, instituições, os clubes, não se preocupam. Acho que seria interessante que esses grandes jogadores de futebol de hoje, que ganham milhões, pudessem manter uma quota para dar para aqueles que estão mais necessitados, não para mim, graças a Deus. Tem muitos jogadores por aí que deram alegrias e estão na miséria. As pessoas falam 'Ah, jogaram tudo fora.' Todo mundo fala de Claudiomiro, uma excelente pessoa, que ele foi para a bebida, mas ele passou uma dificuldade muito grande, não ganhou tanto dinheiro assim. Acredito que até eu, o Figueroa, temos dificuldades, continuamos como ídolos, mas temos que trabalhar. Eu achava que poderia haver uma aposentadoria, alguma coisa, mas é muito dificultoso (sic).

ON - Você acredita que isso pode mudar?
Ancheta - Deveria mudar por que você tem o país, a torcida. Você tem uma imagem para o público e seria importante que isso continuasse vivo para o resto das suas vidas. Não uma imagem de degradação como muitos jogadores tem por aí. Fico sentido com isso [nesse momento Ancheta faz uma pausa longa e não consegue conter as lágrimas]. Sou muito sentimental. Mas acho que as coisas podem mudar.

Foto: Grêmio.Net

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

ON # 026 - Sobre ídolos e exemplos; Passo Fundo na Segundona; Fenômeno da medicina; Profissão perigo; 'Direto' da Costa do Sauípe; Boleiros...

Sobre ídolos e exemplos
Ídolos são reconhecidos pelo que fazem em vida ou apenas quando morrem? Ídolos são exemplos apenas em suas atividades ou em todas suas atitudes? Ídolos marcam uma época ou são eternos? Não vi Ancheta jogar. Ouvi muito a respeito dele. Não precisaria. Conversando por duas curtas horas tive a certeza de estar ao lado de um ídolo. Que continua sendo exemplo. E que merece ser eternizado.
Passo Fundo na Segundona 1
Dia 22, a nova camisa será apresentada. Estampando o vermelho frontal estará a metropolitana Multisom. Nas costas, a passo-fundense Bertol. A Unimed, que poderia aparecer nas mangas, refugou. Vai ceder a UTI móvel para os jogos. A Bom Gosto pode aparecer como nova investidora. Um contragolpe ante a empresa passo-fundense patrocinadora de um time de futsal tapejarense. Começou o Gauchão.

Passo Fundo na Segundona 2
O site oficial do clube - www.esporteclubepassofundo.com.br -, inativo desde o segundo semestre de 2006, será reativado. A página deverá estar no ar nos primeiros dias de março. Por falar em internet, o site da Federação Gaúcha de Futebol merece também ser "reativado". Na seção Clubes, entre os da 2ª Divisão está o injustiçado Sport Club Gaúcho e não o "reativado" Passo Fundo.

Passo Fundo na Segundona 3
O clube anunciou na semana passada uma parceria com a Associação de Veteranos de Passo Fundo, presidida por Aguimar Pitágoras. A equipe de ex-atletas jogará as preliminares do time profissional durante a Série B. A estréia será no dia 2 de março contra o São José-POA, antes de Passo Fundo e Panambi pelo Estadual. Ontem, teve 'olheiro' do tricolor em Santo Augusto para ver o amistoso do TAC.
Fenômeno da medicina
Ronaldo Nazário dos campos recomeça uma via-crucis bem conhecida. A dos corredores de hospitais e clínicas de fisioterapia. Aos 31 anos parece estar encerrando a carreira na Europa. O Milan só renovaria na metade do ano, se estivesse jogando. Seu desejo (e o da torcida do Flamengo, no sentido literal da palavra) de jogar no Brasil parece estar amadurecendo. Mas... Ele é o Fenômeno.
(Foto: Divulgação)
Profissão perigo
A vitória ruim (?) de quarta-feira (15) sobre o Jaciara foi um 'Jaciera' para Mancini. Quando um técnico é demitido após seis jogos, quatro vitórias e dois empates, podemos inicialmente acreditar em um fator 'extravestiário' (o que não se estaria fazendo nele, ou ainda o que não se poderia fazer). Sobretudo podemos concluir que nem resultado segura mais treinador no cargo. Nem o MacGyver.
'Direto' da Costa do Sauípe 1
Nicolas Almagro é o campeão do Brasil Open 2008. O cabeça-de-chave 2 superou o favorito Carlos Moyá nesse domingo (17), parciais de 7/6 (7/4), 3/6 e 7/5, em 2h27. O número 31 do mundo levantou na Bahia o seu terceiro troféu de ATP.

'Direto' da Costa do Sauípe 2
Foi o segundo título da melhor dupla do Brasil da atualidade, os mineiros André Sá e Marcelo Melo. Empurrados pelo público, eles derrotaram a parceria espanhola de Santiago Ventura e Alberto Montañes na dura final por 4/6, 6/2 e 10/7.
Boleiros... Quando eles eram apenas crianças
Thierry Henry, atacante francês do Barcelona. Naturalmente poderia ter sido confundido com um dos cinco Jacksons incluindo Black Power e calça boca-de-sino
(Foto: Divulgação)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

ON # 025 - Alexandre Pato X Kun Aguero; Re: Pobre Mancini; Horário de boate; O mundo dá voltas

Colaboração: Marcelo Alexandre Becker/ON
Alexandre Pato X Kun Aguero
Esta semana recebi um e-mail em espanhol bem mal-escrito. O remetente "escrevia" de Córdoba [cidade do norte argentino] e se chamava "Esteban Crustille". Ele perguntava qual a razão pela qual nós brasileiros exaltamos tanto Alexandre Pato. Disse ainda que para "eles", Pato é uma ilusão. Que na Argentina, "eles" têm Sergio Aguero [atacante do Atlético de Madri] que, segundo "ele", é melhor.
Esteban, acredito que a razão pela qual os brasileiros "badalam" tanto Pato é porque estão sempre comparando um jovem que surge com grande potencial a Ronaldo, o Fenômeno. Por isso tanta notoriedade ao garoto prodígio. E isso acontece não só aqui, mas também aí, no nosso vizinho, quando existe a expectativa do surgimento de um novo craque, apesar de nesse intervalo a Argentina não ter ganhado Copas do Mundo. Mas tu hás de concordar que não acontece todo dia de um clube como o Milan buscar um jogador aos 17 anos, e ele estrear aos 18, marcando 4 gols em seus 4 primeiros jogos. Por outro lado também vejo em "Kun" [apelido de infância de um personagem de anime japonês] Aguero um grande potencial que infelizmente não está em um clube a altura. Por enquanto tens de aceitar que a maior notoriedade de Aguero é o fato de namorar a filha de Maradona. Pato foi campeão mundial de clubes com o Internacional. Mas não há dúvida que os dois são as grandes promessas do futebol sul-americano. Ao final "Esteban" pede perdão pelo mau espanhol. Obrigado por escrever.

(Fotos: Divulgação)

Curiosidades
> Sergio Aguero estreou em julho de 2003, pelo Independiente, com apenas 15 anos, 1 mês e 5 dias, tornando-se o jogador mais jovem a disputar um jogo pelo campeonato local. Em maio de 2006, Aguero se transferiu para a Europa, por 28 milhões de dólares, valor recorde para um jogador argentino.
> Por 20 milhões, a transferência de Alexandre Pato foi a terceira maior da história do futebol brasileiro, só superada por Denílson ao Betis em 1998 (40,5 milhões) e Robinho ao Real Madrid em 2005 (30 milhões). Além disso, foi a mais cara do Inter, superando Fábio Rochemback ao Barcelona em 2001 por 12 milhões.
Re: Pobre Mancini
"Comparando jogadores em cada posição é uma gafe dizer que o time de 2005 é melhor. Dizer que o time da Libertadores 2007 é melhorado, aí sim concordo. O time da Copa era razoável, os que se mostraram bons foram revelados durante a competição (lembre-se que Diego Souza foi para o banco, dando lugar a Ramón, porque não rendia no jogo o que rendia nos treinos) e os renomados não deram resposta, como o caso de Tuta e Amoroso. Não vou fazer comentários sobre o time do Mancini, até porque só vi 5 jogos, mas sobre os times de 2006 e 2007 posso adiantar que o de hoje não fica atrás. Dizer que é candidato a cair também descordo. Vendo jogos dos campeonatos paulista, carioca e mineiro, o Grêmio com certeza não cai... Afirmar que sim é desconsiderar Santos, Vasco, Botafogo, Atlético-MG, Ipatinga... Enfim, se Vagner Mancini vai ser um coitado nós só vamos começar a descobrir em abril/maio, antes disso não temos como saber. Um abraço." Mateus "Potter" Bandeira, Passo Fundo, via post no blog.
Horário de boate
Em sua coluna, Hiltor Mombach comentou sobre a presença de valentes 163 espectadores na derrota do Guarany de Bagé para o São José - 3 a 1 -, às 21h45. Isso que foi 1ª divisão. Agora imaginem na 2ª, onde o ingresso, estipulado pela FGF, será R$ 10. Ainda bem que não haverá jogo em "horário de boate".
O mundo dá voltas
Hugo Sanchez, artilheiro mexicano do Real Madrid na década de 1980, hoje técnico da seleção de seu país, convocou o brasileiro naturalizado Antonio Naelson, o Zinha. Teve que dar explicações. Quando não era técnico, Sanchez criticava duramente a convocação de jogadores "estrangeiros". É uma tendência mundial.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

ON # 024 - Refrão de um bolero; Dormindo com o inimigo; Mau exemplo; Pobre Mancini; Rivalidade X violência; Choradeira sem fim! 1 e 2

Colaboração: Marcelo Alexandre Becker/ON
Refrão de um bolero
Ancheta foi uma grata surpresa no Vermelhão da Serra essa semana. Como zagueiro foi o melhor da Copa de 70, quando na semifinal teve que marcar nada mais, nada menos que Pelé. Aos quase 60 anos impressiona pela vitalidade. Apaixonado por bolero - inclusive com CD gravado - o ídolo terá que provar seu talento agora na casamata, na encardida Segundona Gaúcha. No mínimo conhece...
(Foto: Marcelo Alexandre Becker/ON)
Mau exemplo
Há a informação de que duas, não apenas uma, duas grandes empresas passo-fundenses estariam investindo em um time de futsal da região - que não é de Passo Fundo. Claro, não sabemos qual a visão estratégica dessa empresa, mas pega mal deixar a casa desguarnecida. Ainda nos falta bastante em organização e planejamento, mas não custa "investir" quando estamos com o pires na mão.

Pobre Mancini
A situação do atual técnico gremista Vagner Mancini é pior que a de Mano Menezes quando chegou ao tricolor em 2005. Não há dúvida. Após um recente rebaixamento, o Grêmio parece estar fazendo vestibular para time de 2ª Divisão. Está certo estamos apenas em fevereiro, mas os exemplos de falta de planejamento estão aí, até mesmo como o Internacional de 2007.

Rivalidade X violência
Durante a semana a notícia da morte de um torcedor atleticano que voltava para casa após a derrota de seu time gerou nova revolta com o comportamento irracional de algumas torcidas "organizadas". Mas o fato é que o torcedor não sofreu qualquer tipo de agressão. Samuel Tobias, 19 anos, sofreu uma parada cardíaca após avistar um grupo de cruzeirenses vindo em sua direção. Preço de fama.
Choradeira sem fim! 1
O choro dos são-paulinos pela anulação do gol de Adriano, no clássico de domingo passado contra o Corinthians, parece não ter fim. No jogo entre Chelsea e Reading, pelo campeonato inglês, transmitido pela ESPN Brasil durante a semana, Ballack fez um gol semelhante validado pelo árbitro britânico. A surpresa é quando Marco Aurélio Cunha, superintendente do tricolor paulista, liga para emissora e entra ao vivo na transmissão: "vocês estão vendo... Lá vale!". É, o choro é livre...

Choradeira sem fim! 2
Fosse apenas choro. O São Paulo no período de um ano "vetou" (solicitou a não inclusão no sorteio de) quatro árbitros. O clube, que é exemplo em profissionalismo, faz um deserviço ao futebol, quando comete um ato como esse. No futebol, o árbitro, como qualquer juiz, se vale de seu conhecimento para interpretar. E a decisão é dele. O tricolor paulista está à frente de outros clubes brasileiros, mas tem que parar de achar que está acima. Ou então os árbitros é que vão começar a "vetar" seus jogos.
Dormindo com o inimigo
O armador francês do San Antonio Spurs da NBA, Tony Parker, passou por uma saia justa com as declarações da mulher, a atriz da série norte-americana Desperate Housewives, Eva Longoria. Durante a semana ela disse: "Ele só deveria demonstrar dor quando realmente senti-la. Fico preocupada aqui fora, quando ele finge uma falta ou uma lesão." Será que aqui a moda pegaria?
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