segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Adeus ao 'velho' Lobo das pistas

Carreteras: Haroldo Vaz Lobo, piloto desde a década de 1950, morre em Curitiba aos 82 anos


Morreu nesse sábado, em Curitiba, aos 82 anos, o piloto de carreteras Haroldo Vaz Lobo. O paranaense sofria de diabetes e foi vítima de uma parada cardiorrespiratória em sua casa. Lobo era piloto desde a década de 1950, sempre com sua inseparável Ford Coupé 1940 motor V8, a Barata. Ele era um dos últimos remanescentes da década romântica do automobilismo no estado.

Mesmo curitibano, Lobo manteve laços intensos com Passo Fundo e seus pilotos de carreteras: Menegaz, Schroeder, Finardi, Bertão, Bernardon e Daniel Winick, o único da época ainda vivo.

"Lobo manteve sua 'barata' original por mais de 50 anos, possivelmente o único caso no país, rodando e participando de encontros automobilísticos, onde era considerado herói", emocionou-se o amigo e amante do automobilismo, Nelson Marques da Rocha, da Associação dos Pilotos de Passo Fundo.

Encontro

Os dias 1º e 2 de setembro do ano passado foram os últimos de Lobo em Passo Fundo. O piloto participou do Encontro das Carreteras, promovido pela Associação Cultural Museu do Automobilismo Brasileiro, presidida pelo entusiasta e ex-piloto Paulo Afonso Trevisan.

Em entrevista, Lobo mostrou vitalidade incrível e uma relíquia impecável. "Em uma época em que as cifras eram às vezes inatingíveis, o então moço Haroldo comprava um Ford Coupé 1940, novinho em folha. 'Quando comprei esse carro desmontei-o inteiro. Chamaram-me de criminoso', contava o piloto, não ex, como o próprio adverte. 'Era o melhor carro para preparar. Um 1937 era muito leve. Um 1934 pior ainda', descrevia com a autoridade de quem, então aos 82 anos (revelados pelo filho), esteve dentro de uma carretera por quase 60. 'Nasci há muito tempo, nem dá pra contar."

"O piloto começou a correr em 1949 e só parou por 'influências externas'. 'Parei mas não por mim, não me deixaram mais', ainda indignava-se. 'Eu corri umas 10 Mil Milhas Brasileiras, em duplas e sozinho. Desde a primeira em 1956. Corri com os maiores pilotos aqui do Rio Grande do Sul, sempre com meu carro. Correr no carro do colega é uma coisa. Eles é que pediam para correr no meu. Uns davam os pneus, o outro o combustível', explicava sobre a preparação. A carretera tinha cerca de 200 cavalos, segundo o piloto. 'Ela acompanha até os carros que têm mais potência que ela. Na avenida, eu fui chegando nos bons, eles não me fogem', revelava com segurança. O motor, segundo ele, era uma miscelânea: 'a gente pega peças do Mercur, pega de outros carros, mas também tem alguma coisa original do Ford, a gente mexe no que puder para ficar mais veloz."

"O perigo andava ao lado, mas a coragem era o nome do meio desses pilotos. 'Em São Paulo as carreteras eram chamadas de 'cadeiras elétricas'. Você tem que conhecer muito o carro, estar familiarizado com tudo. Eu tenho o freio especial ainda daquela época. Não era qualquer pessoa que podia correr com esses carros', contava Lobo, fazendo questão de usar sempre o verbo no presente. Haroldo pertencia à Scuderia Galgos Brancos. O filho Marcelo o acompanhava em todos os eventos. A paixão pela velocidade está no sangue. Mas a prudência materna é quem dá as ordens. 'Ele começou a correr de kart. Mas aí veio a mulher e disse: não o incentive que isso é perigoso', divertia-se. Lembrando de como começou, o 'velho' Lobo, emociona-se: 'Quando comecei a correr, não pensei que estava plantando algo que pudesse colher. Hoje estou colhendo o que plantei."

(Foto: Arquivo ON)


Matéria publicada em O Nacional no dia 4 de agosto deste ano

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